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Petiscos, das 12 pessoas do Petcom

Arquivo para mulher

A vida em azul e cor-de-rosa

Elas foram duas mulheres doentes. Uma com problemas decorridos de um acidente de trânsito, outra por culpa de excessos de bebida e morfina.
Ambas sofreram desesperadamente em nome de amores. Uma delas teve uma origem mais difícil, pobre nas ruas de Paris. A outra tinha uma juventude impetuosa até ficar impossibilitada de caminhar por alguns anos, período em que descobriu a sua arte.
A humilde parisiense descobriu muitas coisas quando moça, pois morava com prostitutas em uma casa de prostituição e delas aprendeu canções que abrilhantava com sua voz jovem e magnífica. A segunda mulher, uma mexicana, criou no pequeno universo de seu quarto um estilo próprio de pintura: enquanto não podia andar, pintava dia e noite quadros com idéias que surpreendiam pela originalidade.
Difícil dizer qual das duas teve vida mais fascinante ou qual das duas obras é mais interessante, no entanto podem-se comparar os dois filmes realizados sobre as duas, de produção recente: um é Piaf – Um Hino ao Amor (La Môme, 2007, Olivier Dahan) e outro se chama Frida (Frida, 2002, Julie Taymor). Ambos os filmes narram, da infância à velhice, as vidas de duas artistas de personalidade forte e que deixaram um legado artístico incrível.
O primeiro tem como maior atrativo a atuação de Marion Cotillard, que ganhou o Oscar de melhor atriz pela perfeita representação que faz da cantora Edith Piaf, compositora e cantora do sucesso La Vie en Rose. Com ajuda da maquiagem ela encarna bem mesmo os momentos caquéticos da cantora, quando ela está nas portas da morte. A trilha sonora, além das músicas de Edith, é composta de canções da época (anos 40 e 50) que contribuem na caracterização do filme, e os vários cenários de Paris traduzem um clima opressivo de falta de recursos e carestia. Aliás, mesmo nos momentos mais felizes da vida de Piaf, há uma constante representação de uma aura decadente, como se o mundo dela fosse um cabaré triste cheio de atrações. A cena que mais se destaca em termo de tristeza é quando a cantora recebe a notícia de morte do seu grande amor, Marcel. Sua casa se torna um funeral labiríntico de partir o coração.

Trailer de Piaf

O segundo é uma película colorida e de takes criativos, protagonizada por Salma Hayek que atua maravilhosamente, tendo ao seu redor um elenco tão competente quanto ela. A criatividade do filme se encontra, principalmente, nas cenas que relacionam a produção de um quadro de Frida e o momento crucial que a leva a compor aquela obra. Em uma das sacadas mais geniais, ela está pintando sua obra, enquanto que por uma porta que dá pra um cômodo da casa é possível ver o resultado de suas pinceladas se formando, como se a porta fosse a moldura para o quadro. A história de Frida é rica em acontecimentos e dominada por uma estética de emoções vibrantes que se refletem na iluminação dos cenários e figurinos berrantes – um dos cenários é a Casa Azul, lar em que a pintora viveu e que agora é um museu de sua obra. Existe uma semelhança entre a estética de Almodóvar e a assumida em Frida.

Trailer de Frida

Os dois filmes são excelentes, no entanto Frida é ainda o mais interessante. Além de possuir uma narrativa sedutora e cenas que juntas revelam muitos detalhes da vida da pintora – por exemplo, que ela já teve um caso com Trotsky – é um filme com mais elementos somados e bem acabados num todo: os cenários diversificados, a trilha sonora bem escolhida, atuações magníficas e uso da câmera em diferentes angulações e movimentos. Piaf sustenta-se muito mais pela presença de Marion Cotillard do que pela completude da obra.
Após assistir os filmes, o melhor a fazer é entupir o MP3 da voz fúnebre de Piaf e marejar os olhos com os devaneios dos quadros de Frida. É difícil acreditar que a doença pudesse atingir alguma dessas duas mulheres.

Links Interessantes:

A Música de Edith Piaf:

http://edith-piaf.narod.ru/pesni.html

Pinturas de Frida:

http://www.artchive.com/artchive/K/kahlo.html#images

Mulheres, guitarras e sexo

Apesar de machista ao extremo, é criativa. A imagem abaixo é uma fotografia da vitrine da loja Chelsea Guitars. A plaquinha diz: “O valor de uma guitarra quase nunca é indicado pelo seu preço.”

por Tarcízio Silva