Reações positivas ou negativas ante o recente lançamento da Panini Comics, Turma da Mônica Jovem, uma característica era unânime: os Estúdios Maurício de Sousa estavam mais que antenados ao público jovem pré-adolescente. Muitas sacadas interessantes permearam a HQ, do uso de celulares e ringtones à incorporação de gírias e cultura de gueto pela classe média. As quatro primeiras edições foram sucesso de vendas, conseguiram segmentar um novo público e abrir espaço para incursões mais ousadas quanto à juventude, conforme prometido por Mauricio de Sousa.
A quinta edição, lançada esse mês, traz a seguinte chamada na capa: “As aventuras do dia-a-dia”. O mote das aventuras, de agora por diante, se focará nos relacionamentos pessoais dos personagens que habitam a Vila do Limoeiro, mostrando problemas e alegrias típicos que os jovens vivem. Novamente, como falei em outro blog, Mauricio promete e descumpre.
Não sou tão crítico quanto os meus colegas universitários da área de Sociologia quanto a questões de posição social e atos de fala, mas TMJ#5 é história em quadrinhos completamente elitista e distante da realidade da grande maioria dos jovens, principalmente das meninas, mesmo as ricas. Vamos por partes.
Elitismo: Em TMJ#5 é claramente mostrado a importância do dinheiro na vida adolescente. É através da moeda que os garotos podem levar as garotas para ir ao cinema, e elas podem comprar vestidos e jóias. São usos que muitos jovens fazem do seu dinheiro, mas cada um deles possui um nível de consumo diferente e o realiza de diferentes maneiras. É exatamente isso que TMJ#5 se exime de mostrar. Duas cenas são cruciais para se notar isso: quando Mônica e as amigas vão ao shopping e quando Cebola (não é mais Cebolinha, não esqueçam) pede a chave do carro ao pai.
Mônica está com dor de cotovelo porque Cebola foi estudar Inglês com uma garota. Para lhe ajudar a ficar “pra cima”, sua mãe a leva para fazer compras com as amigas. A lógica do consumo, ao chegarem ao Shopping, é gastar, gastar e gastar. Não é mostrado nem o que elas compram, embora se sugere que tenha sido roupas. A relação do jovem com o que compra é simbólica e concreta para demonstrar características intersubjetivas. O jovem que compra por comprar e pensa despreocupadamente “é hoje que o cartão de crédito do papito vai ferver” é um sério candidato a se tornar – se ainda não o é – um consumidor compulsivo.
Cebola pede o carro ao pai, para rodar no “sabadão”. No entanto, o pai nega por ele não possuir idade para dirigir e ainda o pede para lavar o carro. Lavagem feita, o pai de Cebola o entrega uma nota de 20 reais. Cascão e Titi, ao verem a recompensa, resolvem ir atrás dos pais para negociar o mesmo trato. Mesmo não mostrando eles discutindo com os pais, a HQ dá a entender que os pais são complacentes desse tipo de prática. Não há nenhum pai que não possua “vintão” para dar aos filhos por dez minutos de esforço.
Lembro que desde os primeiros números é mostrado o apelo consumista dos personagens, como quando Mônica resolve trocar de Celular porque o seu está com um pequeno defeito – a recepção de som está ruim. Onde estão os jovens que não podem realizar esse tipo de sonho? Aparentemente, a realidade de TMJ é a de jovens mimados que nunca recebem um “não” e possuem rios de dinheiro e nenhuma preocupação proveniente deste tipo de problema.
Sexismo: A HQ faz uma divisão clara entre meninos e meninas. Elas só aparecem entre elas e eles, entre eles. Cada um tem um grupo de atividades bem definido: as meninas vão ao Shopping, ao salão de beleza, compram jóias e falam de meninos. Os meninos vão pra um campo de beisebol secreto, suar e correr, e só falam de jogos e diversão. Os dois grupos só se relacionam para namorar.
A representação de ambos os sexos presume um tipo bem definido de jovem heterossexual e de classe média alta. Ignora-se o fato das mulheres terem conseguido mostrar, após movimentos feministas, que não são apenas consumidoras passivas, e que não podem ser agrupadas sob o nome “mulher” como se fosse uma identidade precisa sobre a condição de vida de cada individuo feminino.
Não há espaço para que os jovens possam demonstrar desejos sexuais pelo sexo oposto, uma vez que todos os personagens estão compactuados com o modelo heternormativo de relacionamento (ficar, namorar, casar, filhos). A mãe de Mônica diz: “Garotas amam garotos” e todas elas suspiram em acordo. O segundo capítulo da HQ se chama “Os garotos são todos iguais!” e não, não é por ironia. A HQ também é a favor da chamada “ditadura da magreza” ao mostrar jovens felizes com seus corpos: todos são magros e esbeltos e se elogiam por isso.
Acho incrível como a HQ não consegue dialogar com facetas de muitos jovens, como a participação em movimentos sociais, a preocupação com a natureza, o hedonismo sexual. Nesse sentido, a série Malhação da Globo consegue se sair um pouco melhor, mesmo continuando ruim. Desde a primeira edição da revista eu desconfiava que a HQ fosse situar-se exatamente dentro de uma limitada esfera do que se considera a identidade jovem. O público de comunidades do Orkut tachou partes da revista de machista e isso é um bom exemplo do quanto a revista não acertou quanto a estas representações.
Não sou contra uma revista que se proponha uma representação elitizada de um personagem, ou história, mas o que critico aqui é o descompasso entre o que o autor pretende e o que produz. Cadê as histórias sobre temas espinhosos da juventude, que Mauricio prometeu? O que se viu até agora é uma juventude tola, consumista, fútil e politicamente correta – acima de tudo.
Mauricio disse que pode colocar Chico Bento nas histórias se o público pedir por ele. Fico curioso imaginando como ele será colocado nas histórias. Será um filho de fazendeiro riquíssimo que faz musculação e pega todas as meninas do colégio?
como um grande fã de tm eu tb acho q as coisas estuam um pouco exageradas… o Xavco q costuma ser o mais “povão”, ja q seus pais saum separados e tals… vamos ver o q vaum fazer com ele… flwss, bom artigo